sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Esclarecendo e informando sobre HIV/AIDS

O primeiro caso de AIDS registrado no mundo foi no início da década de 80. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, contudo, foi descrita em 1981.  A primeira vítima da doença foi a médica e pesquisadora dinamarquesa Margrethe P. Rask, que faleceu em 12 de dezembro de 1977 de uma doença que a deteriorou rapidamente. Rask esteve na África, estudando sobre o Ebola, e quando começou a apresentar diversos sintomas estranhos para a sua idade.
A autopsia do seu corpo revelou que os pulmões estavam repletos de microorganismos, que ocasionaram um tipo de pneumonia e vieram a asfixia-la. Contudo, a pergunta que pairava era: ninguém morria em função disso, o que estaria acontecendo? Historicamente, talvez esse seja o primeiro caso descrito de morte por decorrência da AIDS.
Os primeiros casos foram reconhecidos nos Estados Unidos, em função de um conjunto de sintomas (Sarcoma de Kaposi e Pneumonia pelo Pneunocistis carinii) em pacientes homossexuais masculinos provenientes de grandes cidades norte-americanas (Nova York, Los Angeles e São Francisco).

Embora estes sintomas já fossem conhecidos anteriormente, no seu conjunto apresentavam características próprias: a pneumocistose, por exemplo, ocorria em pacientes com câncer em estágios avançados (foi a doença que atingiu a médica dinamarquesa); já o Sarcoma de Kaposi era bem conhecido entre idosos procedentes da bacia do mediterrâneo.

Eles nunca haviam sido observados, até então, ao mesmo tempo, em pacientes homossexuais masculinos sem histórico de outras doenças.
Diante deste quadro, o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), o órgão de vigilância epidemiológica norte-americano, passou a estudar a doença e definir o seu perfil clínico e epidemiológico.


Como a incidência, no início, era predominantemente entre homossexuais, suspeitou-se que houvesse relação entre a doença e este estilo de vida. No entanto, não tardaram a surgir casos entre heterossexuais e crianças recém-nascidas. Apesar disso, as principais características epidemiológicas continuaram sugerindo que a doença era infecciosa, transmitida por via sexual, vertical e parental.

Descobrindo as Causas

Com o agravamento da disseminação da AIDS, muitos estudos foram iniciados na tentativa de identificar-se o agente etiológico da doença, possivelmente um vírus. Num primeiro momento, os vírus Citomegalovírus, Epstein-Barr e Hepatite B foram os maiores suspeitos. Não demorou para que os cientistas se dessem conta de que se tratava de fato de um vírus novo.

No ano de 1982, pesquisadores do CDC estavam colhendo dados a respeito de nomes de pessoas homossexuais que houvessem mantido relações sexuais entre si, a fim de mapearem aquela doença, até então não compreendida em relação à sua forma de transmissão.

 Grande parte das pessoas entrevistadas relata haver conhecido um mesmo homem, um comissário de bordo de origem franco-canadense, Getan Dugas. Mais tarde, como escreveu Shilts, este homem passou a ser conhecido como o paciente zero, a partir de quem a doença teria cruzado o oceano atlântico. 

Somente em 1984, quando milhares de pessoas já haviam contraído a doença, que o retrovírus, considerado agente etiológico da AIDS, foi descoberto. Dois grupos de cientistas reclamaram ter sido o primeiro a descobri-lo, um do Instituto Pasteur de Paris, chefiado pelo Dr. Luc Montangnier e o outro dos Estados Unidos, chefiado pelo Dr. Robert Gallo.

O fato é que uma das pesquisadoras do Instituto Pasteur de Paris, Françoise Barre-Sinoussi, conseguiu cultivar um retrovírus em laboratório e enviou o material para o laboratório de Robert Gallo, para que este confirmasse o seu achado, por se tratar de um eminente cientista.

Com base neste material, Gallo divulgou a descoberta como se fosse sua, vindo a retratar-se somente no início da década de 90. Gallo é um importante virologista, e já havia identificado outros dois retrovírus, o HTLV – 1 e o HTLV 2 (Human T Leukemia-limphoma vírus type 1 and 2) e, por isso, o agente etiológico da AIDS foi inicialmente conhecido, nos Estados Unidos, como HTLV – 3.

Na França, ele foi reconhecido como LAV, associado a linfadenopatia. Depois das disputas da comunidade científica serem devidamente esclarecidas, chegou-se ao consenso de denominá-lo HIV, ou, em português, vírus da imunodeficiência humana.

Em 1985 estava no mercado um teste sorológico para diagnóstico da infecção pelo HIV que podia ser utilizado para triagem em bancos de sangue. Após um período de conflitos de interesses político-econômicos, esse teste passou a ser usado mundo afora e diminuiu consideravelmente o risco de transmissão transfusional do HIV.

Em 1986, foi aprovada pelo órgão norte-americano de controle sobre produtos farmacêuticos Food and Drug Administration (FDA), a primeira droga antiviral, a azidotimidina ou AZT. Este revelou um impacto discreto sobre a mortalidade geral de pacientes infectados pelo HIV.

Em 1994, um novo grupo de drogas para o tratamento da infecção passou a ser estudado, os inibidores da protease. Estas drogas demonstraram potente efeito antiviral isoladamente ou em associação com drogas do grupo do AZT (daí a denominação "coquetel"). Houve diminuição da mortalidade imediata, melhora dos indicadores da imunidade e recuperação de infecções oportunistas.

Ocorreu um estado de euforia, chegando-se a falar na cura da AIDS. Entretanto, logo se percebeu que o tratamento combinado (coquetel) não eliminava o vírus do organismo dos pacientes. Some-se a isso também os custos elevados do tratamento, o grande número de comprimidos tomados por dia e os efeitos colaterais dessas drogas. A despeito desses inconvenientes, o coquetel reduziu de forma significativa a mortalidade de pacientes com AIDS.

Na época, o estudo sobre a AIDS dividia-se em, basicamente, duas linhas principais de pesquisa: uma busca uma vacina eficaz, visando imunizar os indivíduos pertencentes a populações sob risco; e outra visando buscar drogas antivirais mais potentes e com menos efeitos colaterais, visando erradicar o vírus do organismo de pacientes infectados.
A AIDS foi, inicialmente, associada de forma estigmatizadora, a grupos de risco, tais como homossexuais, prostitutas, dependentes químicos e hemofílicos, localizados em grandes centros urbanos. O resultado desta associação foi disseminar a falsa noção de que os que não pertenciam a estes grupos estariam a salvo da AIDS. Além disso, reforçou preconceitos e estigmas vigentes contra algumas minorias. 
Hoje, o sistema de tratamento da AIDS brasileiro é considerado um dos melhores do mundo. O governo federal oferece tratamento a todos os portadores do vírus pelo Sistema Único de Saúde (SUS), independentemente do estágio da doença. A partir de fevereiro de 2014, estará disponível no mercado um teste rápido para detectar o vírus da AIDS, produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
O exame poderá ser vendido em farmácias – medida que está sendo estudada pelo governo – e é feito através da coleta da saliva pela própria pessoa. O resultado sai em 20 minutos e o teste deverá custar cerca de R$8. além disso, o Ministério estará uma nova estratégia para prevenção da infecção pelo HIV: disponibilizarão antirretrovirais para grupos vulneráveis ao contato com o vírus. O projeto piloto será realizado no Rio Grande do Sul. Fonte: http://www.boasaude.com.br/
Com base nesse assunto o fotógrafo Daniel Fernandes criou em agosto de 2016 o canal “Prosa Positiva”, onde procura quebrar o tabu sobre o HIV, tratando com naturalidade e descontração questões relacionadas ao tema.
Em seu canal ele trata de vários assuntos como: contar ou não as pessoas sobre ser soropositivo, pessoas que convivem há anos com a sorologia e como elas encaram tal situação, discriminação e crime com soropositivos, relacionamento entre casais soro discordantes, direitos trabalhistas, mitos e verdades quanto a formas de contrair o vírus.
Em entrevista, Daniel conta que teve a ideia de fazer o canal para esclarecer as pessoas quanto a seus direitos, quebrar tabus, além de poder contribuir informando, para que pessoas que vivem com essa realidade tenham mais qualidade de vida tendo os preconceitos, a discriminação e a falta de informação minimizados o tanto quanto possível.
Abaixo segue uma entrevista com Daniel, onde o mesmo fala como surgiu a ideia de criar esse Canal, e do seu principal objetivo. https://www.facebook.com/ramires.santiago/posts/1255511011177587?notif_t=like&notif_id=1479509274497914
 Faculdades ALFA
Ramires Santiago
3º Período 

De olho na comodidade do cliente, marcas investem em moda delivery

No esquema ligou chegou, as marcas femininas agora aderiram a um novo jeito de vender: o delivery. Sem compromisso, as empresas entregam roupas e acessórios nas casas das clientes para que elas na tranquilidade de suas casas provem e selecionem o que desejam comprar. As peças ficam com as clientes, por um período que pode variar de 3 dias a uma semana.
A empreendedora Lena Neres é dona de uma marca delivery, negócio que já dura 4 anos e que conta com o auxílio da internet: “Tudo começou com meus posts nas redes sociais e de início com a dificuldade de locomoção das clientes, trabalho e a correria do dia a dia, eu percebia que as clientes gostavam das peças, tinham interesse, porém elas não tinham essa disponibilidade para ir no showroom para experimentar”, conta Lena.
Proprietária de uma marca de roupas que leva seu 
nome, Lena Neres conta como funciona o serviço delivery.

Foi a partir da necessidade de suas clientes que Lena viu a oportunidade de ouro para se firmar no mercado, e conquistar de vez a confiança de seu público. Ela conta como funciona o negócio: “Monto os looks de acordo com o perfil das clientes, procuro identificar manequim, preferências, porte físico e em cima desse levantamento montamos os looks e envio. Assim podem provar, o que não gostam elas devolvem”, conta a empreendedora.
Essa nova modalidade de vendas tem chamado a atenção pela comodidade oferecida ao cliente, e por esse fator o retorno é garantido, já que as clientes se fidelizam ao serviço e sempre compram novamente, como aponta Lena: “Hoje eu posso falar que 80% das minhas clientes, estão comigo há mais de 3 anos, são clientes fiéis que compram quase toda semana, ou todo mês”, relata Lena.
O fator que conquista a cliente é a tranquilidade de experimentar todas as peças no conforto de casa. A professora Cecília Alves relata sua experiência: "Achei muito legal a ideia de levar as peças para casa e poder experimentar, porque não tenho tempo de ir na loja por causa do trabalho e faculdade. Então a loja entrega na minha casa, eu experimento e escolho com o que vou ficar. Já comprei uma vez, e com certeza vou comprar de novo”, afirma Beatriz.
Por ter que avaliar o perfil, e selecionar quais peças se encaixarão melhor no gosto da cliente, o trabalho desse segmento é também o de uma assessoria de moda, segundo Lena, com a diferença que essa assessoria não tem um custo adicional.
Vídeo de apresentação retirado do canal do youtube da marca 
Moda em Movimento, que trabalha exclusivamente com 
o serviço delivery.

Priorizando cada vez mais a exclusividade e conforto do cliente, alternativas como essas têm alcançado sucesso no Brasil inteiro, e de acordo com Lena Neres o segredo do sucesso nessa área é acompanhar o serviço de perto, avaliando as reações das clientes: “Eu afirmo com toda precisão que o grande segredo é gostar do que faz, eu tenho muito amor pelas minhas clientes e acompanho a montagem de perto, eu oriento as minhas funcionárias como se eu estivesse montando, isso é muito bom."

Francielle Carvalho
Jornalismo, 3° Período
Faculdades Alfa









domingo, 6 de novembro de 2016

FOP: A batalha em família por uma vida melhor

Por Kamilla Oliveira
3° Período, Jornalismo


        Fibrodisplasia Ossificante Progressiva (FOP) é uma doença causada por uma mutação genética e atinge uma a cada dois milhões de pessoas. A criança ao nascer apresenta uma má formação no dedão do pé bilateral e este é o sinal específico da doença. Os sintomas da FOP podem aparecer em qualquer época da vida, porém é mais comum se manifestar na idade pré-escolar, caracterizada por traumas e formações ósseas em ligamentos, tendões e músculos. 
foto friends with fop

          A dentista Marilene Palhares, de 57 anos, mãe de Alexandre Garcia Palhares de 32 anos portador da doença rara, diz que logo que ele nasceu notou as deformações nos dedos do bebê,  e dois dias depois tiveram a informação que poderia ser sinal da doença FOP. “Como mãe era melhor não acreditar”, diz a dentista, e confessa que usou materiais de odontologia para tentar corrigir os dedos do filho. A mãe relata que médico algum jamais havia visto a doença e então pensaram que nada poderia ser feito.
Quando Alexandre estava com dois anos caiu e bateu a cabeça, e uma semana depois amanheceu com uma inflamação na nuca. Durante essa semana o médico pediatra alertou Marilene que se não melhorasse, poderia iniciar uma ossificação e ele perderia os movimentos. A medida que vai ocorrendo as ossificações fora do lugar o paciente vai perdendo a mobilidade de suas articulações e, de forma progressiva, os movimentos, se tornando cadeirante ou acamado. Nesse sentido alguns podem até serem levados a morte por problemas pulmonares.
Foto Miramar Júnior
A família temia muito pelo pior. Descobriram em um livro com poucas informações a gravidade da doença e então resolveram se mudar para os Estados Unidos em busca de tratamento. “Foram muitos anos acompanhando o desenvolvimento da doença e buscando caminhos para o tratamento.Há quatro anos e meio chegou à conclusão de quais medicamentos poderiam fazer o controle”, diz a mãe aliviada e feliz com os resultados alcançado pela pesquisa.
       Alexandre está em tratamento com medicamentos desenvolvido pelo próprio pai, o pediatra Durval Batista Palhares, que a pouco mais de quatro anos conseguiu obter resultados sobre quais medicamentos poderiam ser usados na luta contra a doença.  O pediatra comenta sobre os estudos realizados ao longo dos anos: “houve várias publicações, a defesa de um mestrado, um doutorado em FOP, e em desenvolvimento há mais dois doutorados”.
Segundo Marilene já são 20 pacientes em tratamento domiciliar com o medicamento desenvolvido pelo pediatra, como é o caso da jovem Fernanda Aparecida, que aos oito anos de idade foi diagnosticada com FOP. Fernanda teve vários momentos da sua vida privados pela doença, como terminar o ensino médio em casa, pois a escola não tinha acessibilidade. Hoje aos 20 anos ela comenta como foi importante à descoberta de um medicamento que visa melhorar a qualidade de vida dos pacientes. “Foi importante saber que depois de muitos anos temos a chance de poder ter uma vida melhor sem sentir tantas dores.E saber que os novos pacientes podem ter uma infância mais normal apesar de todas as dificuldades”, relata Fernanda.
O pediatra acredita que até janeiro de 2017 partes importantes das pesquisas serão concluídas. “Os resultados sairão em breve na literatura mundial, estamos correndo contra o tempo para concluir e ter ainda algumas respostas em biologia molecular”, diz Durval.



quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Cidade de Goiás, e sua arquitetura encantadora


              A cidade de Goiás possui uma arquitetura diferenciada, conhecida como arquitetura colonial. O seu estilo é Art Déco que é traçado com linhas verticais e horizontais. Em um passeio na cidade você observa que as casas, lojas e igrejas são antigas e coloridas, sendo mantida 90% da sua arquitetura original. As ruas são de pedras, as casas são juntas uma da outra e suas janelas são largas e compridas. Para explorar bem a arquitetura da cidade é preciso andar bastante para conhecer cada pedacinho como a praça do coreto, museus, as igrejas, largo do chafariz entre outros pontos turísticos e suas culturas.

Foto: Yohanna Santos


            Considerada um dos patrimônios arquitetônicos mais ricos do Brasil, a cidade de Goiás garante para os turistas uma verdadeira viagem no tempo. As lojas, restaurantes, igrejas, casas e museus todos contam com uma bagagem cultural que é mantida até hoje, poucos lugares tiveram alteração nos últimos anos. O lugar mais visitado da cidade, e que demonstra bem a arquitetura histórica, é a casa onde viveu Cora Coralina, que foi uma poetisa, contista brasileira, e doceira de profissão. Era uma mulher simples, que produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular das ruas históricas de Goiás. Hoje sua casa é um museu, e em uma das janelas foi feita uma estatua que representa Cora Coralina,

Foto: Yohanna Santos


              Visitei a cidade e fiquei encantada com todos os detalhes. As lojas são modernas mas que mantém a arquitetura histórica, o que as fazem ser diferentes das que costumamos ver nas grandes cidades, é interessante ver que não tem um portão para entrar na casa. Durante a caminhada pela cidade a cada momento nos surpreendemos com a forma que mantêm a historia por tanto tempo, e pelo cuidado que todos tem para deixá-la do mesmo jeito que era anos e anos atrás. Vale a pena ver de perto essa arquitetura encantadora e conhecer mais sobre as historias da Cidade de Goiás.

                                                                         
                                                                                                                          Lara Beatriz
                                                                                                                            4º Período

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Goiás, a velha de ouro que parou no tempo



por Celso Assis
O sol reflete sua luz nas pedras de calçamento e nas paredes históricas da cidade de Goiás há quase trezentos anos. Somente o ouro para motivar os bandeirantes a andarem milhares de quilômetros Brasil a dentro para aparecerem na Serra Dourada e fundarem uma vila longe de qualquer outro grupo humano. A mineração saiu de moda e o centro parou no tempo. Isso não é ruim. O futuro bem alicerçado depende de uma boa noção do passado.
A antiga capital da província goiana resiste bravamente às intervenções do tempo. Sua elegância permanece nesta preservação. Os cerca de 24 mil habitantes de Goiás vivem, em sua maioria, na parte moderna da cidade. O centro histórico é tombado como patrimônio mundial da humanidade pela Unesco desde dezembro de 2011. Lojas de artesanato, bares, museus, restaurantes e agências governamentais se adaptaram à estrutura de séculos passados, tudo para que não haja prejuízo à memória da cidade.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) trabalha para não fazer a arquitetura de Goiás se perder no tempo, mas quem faz o serviço mais valioso em prol da cidade são seus moradores. A memória das antigas gerações conserva as histórias, as personagens, os “causos” que passaram por lá. Da lenda da pira com álcool do Anhanguera às margens do Rio Vermelho até os biscoitos com poesia de Cora Coralina, existem pessoas naquela cidade que se encarregam de repassar tais memórias.
Fim de tarde, João Maria Berquó caminha pela cidade que mora há 82 anos. Turistas subindo, estudantes descendo, seu Berquó percebe o interesse de certas pessoas pela história de Goiás. Não é difícil encontrar pessoas assim, afinal, quem vai até Goiás Velho é quem quer ver o que não se vê nas cidades modernas. Seu Berquó é desses que não gosta de ver gente perdida. Se tem alguém que quer ouvir histórias, aquele senhor está lá para contá-las.
Assim que captura seus ouvintes, o homem aponta daqui, fala dali:
- O antigo cinema ficava nesse beco.
Comenta com naturalidade sobre pessoas que a gente só vê nos livros:
- Pedro Ludovico Teixeira gostava desse lugar.
Seu Berquó nasceu poucos anos antes de Goiânia se tornar oficialmente a nova capital do estado, em 1937. Enquanto caminhamos próximo da Casa da Ponte, o cidadão ilustre de Goiás conta sobre as peripécias dos coronéis de antigamente que atendiam pelos sobrenomes Caiado e Fleury. Por ter já certa idade, não eram poucas as vezes que seu Berquó simplesmente mudava de assunto no meio da conversa ou pedia para falar mais alto. Próximo ao Fórum Municipal, ele nos conduz ao seu escritório.

O número 4 da Rua Senador Eugênio Jardim foi no passado o primeiro Consulado da Alemanha. O sobrado era um dos poucos edifícios residenciais com dois pavimentos da cidade. Segundo seu Berquó, a sacada tinha um propósito maior que o estético quando foi construído: daquela altura podia-se se índios da tribo Goyá se aproximavam para atacar.
A sala de entrada era quente e abafada. Percebia-se que estava na hora de uma repaginada no lugar. Parecia uma mistura de boticaria com biblioteca. A bagunça do escritório de seu Berquó era “elegante”, podia-se dizer: livros, recortes de revistas, fotos antigas, estantes empoeiradas e quadros borrados, além de várias quinquilharias estavam jogadas por todo o lugar.
Enquanto o homem falava sem parar sobre histórias da cidade, os estudantes olhavam fascinados pelo pequeno museu que era aquele gabinete. Isso aconteceu com este grupo, deve ter acontecido com outros e certamente acontecerá com os próximos que Berquó trará para a visita. As fotografias coladas em um álbum improvisado renderiam um combate mortal entre historiadores. Escravos de pele impressionantemente negra, homens sacudindo peneiras no Rio Vermelho a procura de ouro, mulheres lavando roupa e coletando água nos antigos chafarizes da cidade. Cada foto possuía uma legenda, embora fosse ilegíveis, mesmo com todo o capricho das letras.
A bagunça “organizada” de seu Berquó esconde preciosidades, como essa edição da revista VEJA de julho de 1986 trazendo na capa o senador Ronaldo Caiado (de família tradicional em Goiás). O título “A força da UDR” (União Democrática Ruralista) explica “como os fazendeiros enfrentam a reforma agrária do governo”.
Quadros de Pedro Ludovico Teixeira, o grande interventor federal em Goiás tinham lugar de destaque na parede. Títulos de honra ao mérito a João Maria Berquó como cidadão goiano e farmacêutico também se exibiam. Ferros a brasa e duas palmatórias escolares eram colocadas sobre as estantes como troféus.
Pedro Ludovico Teixeira em trajes de explorador.
Como disse o próprio seu Berquó, a cidade mudou pouco nos últimos duzentos anos. O ouro que milhares de pessoas vieram procurar ainda está por aí, de acordo com o senhorzinho. Talvez não seja extraído em Goiás, mas no mesmíssimo Rio Vermelho que cruza a antiga Vila Boa, ouro está sendo minerado por uma empresa australiana em Crixás, há 300 quilômetros dali.
Onde está reservado o futuro de Goiás Velho? Na tradição. A procissão do Fogaréu, o Festival Internacional de Cinema Ambiental (o FICA, que acontecia naquele mesmo fim de semana), a transferência simbólica de capital para Goiás em um dia de julho, o artesanato e o turismo contribuem para manter a cidade imune às modernidades das outras cidades. No entanto, isso só acontecerá se pessoas como João Maria Berquó continuarem apreciando o passado sem serem saudosistas e visar o futuro com o pé no chão. Verdade seja dita: a cidade de Goiás parou no tempo e este é o maior elogio que alguém pode render a ela.
João Maria Berquó em seu escritório pessoal.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

A poesia legitima a maluquez das pessoas

Poesia: a forma mais marginal de literatura

por Juliana Camargo
Malabarismo com as palavras, jogo de sentidos e significados, uma das formas mais antigas de se fazer arte: a poesia. Para uns são apenas versinhos escritos com métrica e rima, para outros essa é a forma mais marginal e humana de se fazer literatura. Mas não qualquer literatura, há quem diga que essa é a literatura com cheiro de gente, a literatura que está viva.
 Kaio Bruno Dias
Mas onde está essa poesia? Talvez ela esteja por toda parte e às claras, disponível e palpável a todos. Segundo Kaio Bruno Dias, poeta e ativista cultural em Goiânia, a poesia é uma entidade abstrata, como se ela enchesse e entrasse dentro de uma forma. O verso é o corpo e a poesia a alma. “Sem essa alma o corpo não tem sentido e não existe, é como um carro sem gasolina, Bochecha sem Claudinho, avião sem asa, fogueira sem brasa”, complementa Kaio, brincando em referência a música de Adriana Calcanhotto.
A poesia é algo que pulsa. Ela surge enquanto se está vivenciando, sentindo, sendo instigado. “É o transbordamento de sensações”, como é definido por Kaio Bruno. O poeta em diversos momentos se sente 'incomodado' e então a poesia acontece. “Posso escrever sobre o porquê as pessoas na hora de cumprimentar não beijam de verdade no rosto uma da outra, elas dão bochechadas. Posso escrever também sobre o meu aluguel atrasado, por exemplo”, relata o escritor.
Podemos encontrar poesia onde menos se espera. Uma surpresa que ameniza o cansaço e faz brotar um sorriso em meio a pessoas desconhecidas. Algumas sentadas a sós, outros com alguém do lado e várias em pé. O cenário é o Eixo Anhanguera. Surgiu então em 2013 o Literatura no Eixo, com a intenção de sacudir a energia do ônibus que segundo Kaio Bruno Dias é muito pesada devido às viagens que são estressantes, cansativas, ao preço da passagem e os ônibus sempre lotados.
Integrantes do projeto Literatura no Eixo 
O projeto é uma iniciativa independente em que Kaio Bruno e um grupo de amigos entram nos ônibus declamando poesias, cantando e levando um pouco de cor onde o cinza que sai dos escapamentos prevalece. “Eu via muito vendedor ambulante, gente pedindo, aí eu pensei, porque não criar um projeto que ao invés de entrar pedindo, a gente não entra oferecendo alguma coisa? ”, relata o poeta.
O estudante de psicologia Higor de Sousa Britto, amante compulsório por poesia, que por vezes depende do transporte coletivo, acredita que projetos como esse tornam a arte cada vez mais acessível. Exatamente por esse motivo, o Literatura no Eixo foi bem recebido e agradou aos goianienses que passam pelo Eixo Anhanguera. A cada vez que embarcavam nos ônibus o clima era de comunhão entre as pessoas. “Na maioria das vezes a gente era aplaudido quando descia do ônibus, muitas vezes o pessoal filmava as apresentações e depois vinham trocar ideia”, relata Kaio Bruno.
Poesia é uma terapia que exercita e alivia a mente. Pedro Salomão, poeta, ator e compositor encontrou na poesia seu refúgio, um apoio para se recuperar da dor da perda. Segundo ele, a poesia foi se enraizando e adentrando em sua vida aos poucos, mas o verdadeiro parto da poesia foi depois do falecimento de seu melhor amigo.
Assim, Pedro começou a colocar em forma de textos as suas angústias.  “Comecei a escrever mesmo sem saber que aquilo era poesia, era uma forma mais agressiva de escrita, eu escrevia na parede do meu quarto”, declara o poeta. Desta forma, as poesias eram sobre saudade, sobre o vazio, sobre a amizade interrompida bruscamente. "Poesia é a janela que faz correr o vento entre minha alma e o mundo. Era assim que eu entendia e é assim que eu entendo até hoje", afirma Pedro.
Após cerca de dez meses de luto, o poeta começou a fazer outros textos, com outros temas, outra perspectiva. Era uma visão positiva novamente sobre a vida e sobre si. Uma delas, intitulada ‘Amor se faz com barba, poesia erótica que ele gravou em forma de vídeo recitando-a e por insistência de alguns amigos resolveu postar nas redes sociais. Para sua surpresa, viralizou.


        Depois tantas visualizações, compartilhamentos e curtidas, uma amiga de Pedro sugeriu a criação de uma página no Facebook.  Desde sua criação em janeiro, são feitos dois posts por dia, o que exige um compromisso maior de Pedro com a arte, como ele mesmo relata: “Escrevo por amor à arte, mas tenho que me esforçar. Preciso ter a responsabilidade de produzir poesia todo dia e produzir conteúdo para página, então não é só um hobbyzinho”. Um dos poemas mais famosos de Pedro é o ‘Carinho de dedo’


Mas afinal, se a poesia está por toda parte e até mesmo nos momentos difíceis, quem seria esse poeta? Será um ser divino com uma espécie de dom da escrita e um hiper sentimentalismo? “Quando se fala o ‘dom’ da escrita, parece que é algo distante, como se o poeta estivesse vendo os reles mortais não-poetas do topo de uma montanha, mas não é bem assim”, declara Kaio Bruno Dias, e conclui dizendo que as coisas ao redor podem despertar um sentimento maior em algumas pessoas, mas seria simplório afirmar que elas vão ver poesia em tudo
Então, como o Higor de Sousa diz “todo mundo é uma poesia esperando para ser lida”. De alguma forma, todos fazem poesia porque sentem esse transbordamento de sensações, mesmo que não seja escrevendo versos. As formas de se expressar são infinitas, mas não há de se negar que a poesia é uma das formas mais belas de deixar sair aquilo que de mais primitivo grita dentro de si.   

O poeta é um fingidor

Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente
E os que lêem o que escreve
Na dor lida sentem bem
Fernando Pessoa
  
Pedro Salomão
E se a poesia não existisse? O que seria do pobre poeta? Muito provavelmente seria apenas um lunático com seus devaneios. Pedro Salomão confessa que “a poesia é um tipo de arte e a arte é o que legitima a maluquez das pessoas”, e complementa:  “Se não fosse a arte a gente seria considerado um maluco, mas ainda bem que a arte existe, que daí nós podemos ser artistas”.

Brechós, universo dos "achadinhos"

Brechó: vestir-se bem, pagando pouco

por Thaillyne Rodrigues

Lucas da Costa
Encontrar seu estilo. Fazer sua própria moda. Achar aquilo que te define. Essas tarefas são um tanto quanto complicadas, e exige atitude, disposição, personalidade, inventividade e geralmente custa caro. Mas quando se tem paciência para procurar, os brechós são excelentes opções, que vão de peças luxuosas a roupas simples do dia-a-dia, de acessórios recém lançados ao retrô. Esse universo de objetos usados oferecem bastantes alternativas para que cada tipo de pessoa encontre seu estilo, aquilo que te define e faz bem, de forma mais acessível e sustentável.
Lucas da Costa, que há quatro anos faz compras em brechós, fala sobre seu fascínio por essa escolha de compras: “Acredito que o que mais me atrai nessas buscas trabalhosas por novas peças é encontrar algo inusitado, sempre em minhas compras há o elemento surpresa. Gosto também da pluralidade de estampas, tecidos, texturas e cortes de peças que podem ser encontradas em brechós”. Mas para encontrar esse ‘algo inusitado’, é necessário disposição, como o próprio Lucas diz: “Comprar em brechós não é fácil e demanda bastante tempo. ”

Camisa comprada em um "achadinho"
                                                                                                                                                             Goiânia oferece muitas opções de brechós, dentre elas o Nô Brechó , da empresaria Noêmia Lima, que funciona desde de 2012 e oferece roupas usadas, seminovas, retrô, vintage e trabalha com multimarcas. Além de vender objetos usados, o Nô Brechó, também compra peças. Fazendo com que assim, o cliente também possa trocar de roupas e de energias positivas. “O meu diferencial é o atendimento, e o perfil do público é aquele que busca preço baixo”, afirma Noêmia.
  Uma outra opção é o Empório Armário Brechó e Suqueria , que além de moda, combina, arte, gastronomia, cultura, com apresentação de artistas, declamação de poesias, promoção de eventos e feira de troca, tudo isso no Centro de Goiânia. Um lugar ultra aconchegante, que remete a Londres. E que ainda vende LP’s para os apaixonados por vinis. É um espaço para celebrar a goianidade, divertir e renovar o guarda roupa.

                                                             
Apta e familiarizada com esse universo de “achadinhos”, a estudante Natália Carvalho, aprendeu
Natália Carvalho
com a mãe a fazer compras em brechós, e mais do que consumir, Natália aprendeu a se desapegar, "Eu aprendi a doar roupas também, porque eu não sou apegada as minhas roupas, da mesma forma que eu consumo, eu também faço doação para outros brechós".
Natália fala de uma das vantagens que considera nos brechós, "Sempre tem aquela peça que não tem mais na loja, porque de certa forma já saiu da moda. Mas nem por isso ela deixou de ser interessante, então você sempre encontra ela lá. Sempre tem aquela peça única, aquela peça com a cara da vovó, ou então moderninha, ou anos 90".
A moda é muito rotativa e nem todos conseguem acompanhar. Usar aquilo que te faz bem e ainda pagar pouco é um sonho de muitos, então, basta usar a criatividade e pesquisar muito, para que isso se torne realidade. Vestir-se bem e pagar pouco por isso é o que rola. E os brechós, são ferramentas importantíssimas e super úteis nessa busca.


Serviço:
Onde: Nô Brecho
Endereço: Rua três, nº941 - Setor Central – Goiânia
Telefone: (62) 3212-3061 - Whatsapp (62) 8124-5856
Horário de Funcionamento:
Segunda à sexta: 8h às 18h
Sábado: 8h às 13h
@NoBrecho

Onde: Empório Armário brechó e Suqueria
Endereço: Rua 15, nº 357, Centro - Goiânia
Telefone: (62) 3241-9615
Horário de Funcionamento:
Segunda: 12h às 18h/19h às 20h
Terça e quarta: 12h às 18h
Quinta e sexta: 12h às 00h