Poesia: a forma mais marginal de literatura
por Juliana Camargo
Malabarismo com as
palavras, jogo de sentidos e significados, uma das formas mais antigas de se
fazer arte: a poesia. Para uns são apenas versinhos escritos com métrica e
rima, para outros essa é a forma mais marginal e humana de se fazer literatura.
Mas não qualquer literatura, há quem diga que essa é a literatura com cheiro de
gente, a literatura que está viva.
Kaio Bruno Dias |
Mas
onde está essa poesia? Talvez ela esteja por toda parte e às claras, disponível
e palpável a todos. Segundo Kaio Bruno Dias, poeta e ativista cultural em
Goiânia, a poesia é uma entidade abstrata, como se ela enchesse e entrasse
dentro de uma forma. O verso é o corpo e a poesia a alma. “Sem essa alma o
corpo não tem sentido e não existe, é como um carro sem gasolina, Bochecha sem
Claudinho, avião sem asa, fogueira sem brasa”, complementa Kaio, brincando em
referência a música de Adriana Calcanhotto.
A
poesia é algo que pulsa. Ela surge enquanto se está vivenciando, sentindo,
sendo instigado. “É o transbordamento de sensações”, como é definido por Kaio
Bruno. O poeta em diversos momentos se sente 'incomodado' e então a poesia
acontece. “Posso escrever sobre o porquê as pessoas na hora de cumprimentar não
beijam de verdade no rosto uma da outra, elas dão bochechadas. Posso escrever também sobre o meu
aluguel atrasado, por exemplo”, relata o escritor.
Podemos
encontrar poesia onde menos se espera. Uma surpresa que ameniza o cansaço e faz
brotar um sorriso em meio a pessoas desconhecidas. Algumas sentadas a sós,
outros com alguém do lado e várias em pé. O cenário é o Eixo Anhanguera. Surgiu
então em 2013 o Literatura no Eixo, com a intenção de sacudir a energia do
ônibus que segundo Kaio Bruno Dias é muito pesada devido às viagens que são
estressantes, cansativas, ao preço da passagem e os ônibus sempre lotados.
Integrantes do projeto Literatura no Eixo |
O
projeto é uma iniciativa independente em que Kaio Bruno e um grupo de amigos
entram nos ônibus declamando poesias, cantando e levando um pouco de cor onde o
cinza que sai dos escapamentos prevalece. “Eu via muito vendedor ambulante, gente
pedindo, aí eu pensei, porque não criar um projeto que ao invés de entrar
pedindo, a gente não entra oferecendo alguma coisa? ”, relata o poeta.
O estudante de psicologia Higor de Sousa Britto, amante compulsório por poesia, que por vezes depende do transporte
coletivo, acredita que projetos como esse tornam a arte cada vez mais acessível. Exatamente por esse motivo, o Literatura no Eixo foi bem
recebido e agradou aos goianienses que
passam pelo Eixo Anhanguera. A cada vez que embarcavam nos
ônibus o clima era de comunhão entre as pessoas. “Na
maioria das vezes a gente era aplaudido quando descia do ônibus, muitas vezes o
pessoal filmava as apresentações e depois vinham trocar ideia”, relata Kaio Bruno.
Poesia é uma terapia que exercita e alivia a mente. Pedro
Salomão, poeta, ator e compositor encontrou na poesia seu refúgio, um apoio para
se recuperar da dor da perda. Segundo ele, a poesia foi se enraizando e
adentrando em sua vida aos poucos, mas o verdadeiro parto da poesia foi depois
do falecimento de seu melhor amigo.
Assim, Pedro começou a colocar em forma de textos as suas angústias. “Comecei a escrever mesmo sem saber que aquilo era poesia, era uma forma mais agressiva de escrita, eu escrevia na parede do meu quarto”, declara o poeta. Desta forma, as poesias eram sobre saudade, sobre o vazio, sobre a amizade interrompida bruscamente. "Poesia é a janela que faz correr o vento entre minha alma e o mundo. Era assim que eu entendia e é assim que eu entendo até hoje", afirma Pedro.
Após cerca de dez meses de luto, o poeta começou a fazer outros textos, com outros temas, outra perspectiva. Era uma visão positiva novamente sobre a vida e sobre si. Uma delas, intitulada ‘Amor se faz com barba’, poesia erótica que ele gravou em forma de vídeo recitando-a e por insistência de alguns amigos resolveu postar nas redes sociais. Para sua surpresa, viralizou.
Assim, Pedro começou a colocar em forma de textos as suas angústias. “Comecei a escrever mesmo sem saber que aquilo era poesia, era uma forma mais agressiva de escrita, eu escrevia na parede do meu quarto”, declara o poeta. Desta forma, as poesias eram sobre saudade, sobre o vazio, sobre a amizade interrompida bruscamente. "Poesia é a janela que faz correr o vento entre minha alma e o mundo. Era assim que eu entendia e é assim que eu entendo até hoje", afirma Pedro.
Após cerca de dez meses de luto, o poeta começou a fazer outros textos, com outros temas, outra perspectiva. Era uma visão positiva novamente sobre a vida e sobre si. Uma delas, intitulada ‘Amor se faz com barba’, poesia erótica que ele gravou em forma de vídeo recitando-a e por insistência de alguns amigos resolveu postar nas redes sociais. Para sua surpresa, viralizou.
Depois tantas visualizações, compartilhamentos e curtidas, uma amiga de Pedro sugeriu a criação de uma página no Facebook. Desde sua criação em janeiro, são feitos dois posts por dia, o que exige um compromisso maior de Pedro com a arte, como ele mesmo relata: “Escrevo por amor à arte, mas tenho que me esforçar. Preciso ter a responsabilidade de produzir poesia todo dia e produzir conteúdo para página, então não é só um hobbyzinho”. Um dos poemas mais famosos de Pedro é o ‘Carinho de dedo’.
Mas afinal, se a poesia está por toda parte e até mesmo nos momentos difíceis, quem seria esse poeta? Será um ser divino com uma espécie de dom da escrita e um hiper sentimentalismo? “Quando se fala o ‘dom’ da escrita, parece que é algo distante, como se o poeta estivesse vendo os reles mortais não-poetas do topo de uma montanha, mas não é bem assim”, declara Kaio Bruno Dias, e conclui dizendo que as coisas ao redor podem despertar um sentimento maior em algumas pessoas, mas seria simplório afirmar que elas vão ver poesia em tudo
Então, como o Higor de Sousa diz “todo mundo é uma poesia esperando para ser lida”. De alguma forma, todos fazem poesia porque sentem esse transbordamento de sensações, mesmo que não seja escrevendo versos. As formas de se expressar são infinitas, mas não há de se negar que a poesia é uma das formas mais belas de deixar sair aquilo que de mais primitivo grita dentro de si.
“O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente
E os que lêem o que escreve
Na dor lida sentem bem”
Fernando Pessoa
Pedro Salomão |
E
se a poesia não existisse? O que seria do pobre poeta? Muito provavelmente
seria apenas um lunático com seus devaneios. Pedro Salomão confessa que “a
poesia é um tipo de arte e a arte é o que legitima a maluquez das pessoas”, e
complementa: “Se não fosse a arte a gente seria considerado um maluco,
mas ainda bem que a arte existe, que daí nós podemos ser artistas”.
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