Foto Reprodução, Diário de Goiás: À esquerda:
local onde ocorreu o homicídio. À esquerda: parte da frente do hospital para
onde foi levado o suspeito.
De acordo com o livro Linchamentos – A justiça popular no
Brasil, do sociólogo José de Souza Martins, a média
de tentativas de linchamentos é de uma por dia. Essa
situação não só abre espaço para uma complexa e indispensável reflexão sobre a
realidade brasileira no que diz respeito à inexistente segurança e à ineficácia
do sistema judiciário, como também traz um sinal de alerta em relação à cultura
da vingança instaurada no Brasil.
A
partir das informações citadas acima, a grande questão que surge é: Por quais
motivos o ato de linchar tem se tornado uma prática tão comum no Brasil? O que leva a população a esse extremo de crueldade e revolta? Os
linchamentos são atos legítimos de justiça?
Não.
Não há como concordar com a prática do linchamento.
As pessoas querem fazer justiça cometendo o mesmo crime que o suspeito, ou
talvez até pior devido aos seus acréscimos de crueldade. No caso ocorrido na
cidade de Goianira o suspeito roubou a motocicleta e matou o moto taxista,
sabe-se lá por quais motivos, talvez um vício em drogas, que é o mais comum nos
dias atuais.
Em todo caso, não há justificativa plausível para se assassinar
uma pessoa – nem para suspeito muito menos para a população. Mas o ato de
reunir dezenas de cidadãos, pegar pedras e pedaços de pau e desferir golpes
contra um possível assassino parece ser o único modo de se fazer justiça – ou vingança?
– no Brasil. No entanto, essa atitude não faz essas pessoas justas de fato, e
nem o ato pode ser chamado de justiça, e sim de vingança justificada pelo ódio.
Ódio esse que a cada dia toma mais o lugar do respeito e amor que deveríamos
ter arraigados em nós.
Mas ao se refletir na realidade da justiça brasileira,
encontra-se uma clara motivação para as reações desesperadas de quem se
prontifica a pegar paus e pedras contra outro ser humano: Em um país em que na prática, quem é condenado a 12 anos de
reclusão por um crime que não seja hediondo (crimes hediondos são entendidos pelo poder legislativo
como os que merecem maior reprovação por parte do Estado), cumpre 2 anos em regime fechado e tem o
direito de ir para o regime semiaberto, que é cumprido em penitenciária
agrícola ou similar.
O que fica para a população, muitas
vezes, é uma sensação de impunidade, ao trazer de volta para o convívio social
criminosos que cumpriram dois, três anos da pena dentro da prisão. Daí
justifica-se o desespero por justiça, de pais que perderam um filho para uma
bala, ou de trabalhadores que viram o dinheiro suado de seu sustento ser levado
por assaltantes.
A solução para esse grande problema
vigente em nosso país, é a real garantia de acesso à justiça a todos os
cidadãos brasileiros. É uma realidade possível e depende da concepção e da
execução de uma política pública de acesso à justiça, que inclua informação,
mecanismos alternativos de resolução de conflitos e os tribunais.
E claro, a solução também depende de você
leitor, isso mesmo, você. Depende de sua conscientização sobre seus direitos,
depende de sua fiscalização ao sistema, de sua voz clamando por mudanças, e
principalmente de sua reflexão sobre quem você coloca no sistema legislativo,
já que são os componentes desse poder que redigirão nossas leis, as quais regem
o sistema judiciário. O poder de resolver essas e outras questões cruciais está
em nossas mãos, só precisamos entender e atuar como cidadãos verdadeiramente
conscientes.
Por Francielle Carvalho
3° Período, Jornalismo
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